tenho sorrido, tenho chorado,
tenho agradecido e
penado,
tenho sido divino e
humano,
porque finalmente as
coisas
se abrem em fluxo
anímico
numa estrada que me
cega
e mesmo de olhos
fechados
eu posso seguir com vocês.
porque preciso de cada
um,
de cada alma que
percebe
a dificuldade de estar
aqui.
a dificuldade também
pela
beleza de tudo ser tão difícil
e, só por isso, magnânimo.
quero a dor de cada um
perto da minha dor e
que
cada alegria também
seja
repartida por cada pessoa.
não vestir mais o
pijama
em meu coração tão
frágil,
poder arregaçar as
mangas
do espírito e me abrir
para
tudo que constitui a
vida.
a felicidade é também
uma
dureza pela qual
agradeço.
porque muitas vezes não
sou
meritório e mesmo não
sendo
recebo as dádivas do
mistério
deste perigo próspero, desta
entrega convulsa que se
doa
para que todos sejamos
puros
em nossa profunda
imundice.
que seja possível ter na mão
este bastão em chama
fluida
por anos de se levantar
e cair,
e que o meu pai possa
sorrir
quando a imagem do seu filho
às vezes pobre, às
vezes rico,
pairar em sua mente paterna.
que ele saiba que este
ciclo
serve apenas para
limparmos
a antessala de nossos defeitos
para que a sujeira seja
a luz
e o guia de toda boa
vontade.
eu agradeço até pela
culpa
que se reverte em luta
leve
e por cada pedaço de
limo
em minha caixa d’água
tão
suja e pelo amor que
sinto
pela sujeira permanecente
que me permite
continuar
a limpeza sem que
precise
descansar, vestir o
pijama
na alma às vezes exausta
e tão sedenta de
liberação.
quero andar junto a
todos,
até me arrastar eu
quero,
porque estar por
inteiro
lado a lado com cada um
vale o esforço amoroso
de abrir o peito,
fechar
os olhos e querer o
bem.
pois estamos em chamas
e tudo em volta é
brilho,
apesar de toda
escuridão.