29.5.23

"um poema para pernalonga"


sou daqueles que fogem com circo,

trabalho com as crianças pelos dias

em que elas serão os adultos mirins

que escreverão tudo sobre o fogo

enquanto têm as mãos em chamas.

 

imagino são pedro burguês sacana

que gosta de dar chuva aos pobres

e faz os ricos organizarem maconha

na tanzânia, amsterdam, em lisboa.

 

uma pena que aos ricos não apeteça

transar poesia nas tardes de segunda.

fermentação, éter e bosta de cavalo:

é o que traz ao pobre o doce-amargo

dessa aventura poética microcefálica.

 

acontece que nas boas famílias ricas

a poesia vai se tornando fala eunuca

sobre um modernismo que regurgita

peripécias de um tempo em que era

bonito não ter nada e arrotar carícias.

 

eu queria ser um teaser bem educado,

fazer poemas bonitos por encomenda

para pessoas que já não se apaixonam

e poderiam muito bem comer espelho.

 

agora escuto dulce 3 nocturno e penso:

você é a melhor canção do meu mundo.

meus olhos curtos focam flor de gastrite,

me vejo feliz numa bicicleta em chamas.