7.9.22

"observação não há: un poema uruguayo"

 



observação não há, mas os cascos

que trouxeram até aqui se mastigaram

nas pedras como dentes, as costas

são eretas porque paraste de morrer,

não totalmente, é claro, porque viver

deve sempre entorpecer, já que é algo

que se nos empurram corpo adentro,

porque observação não há, sabemos

que viver é estar fora enquanto queria

un gran pogo de rock un beso un cuchillo,

uma consulta lacaniana sem fim no teu colo,

um pesadelo em que os analistas sorriem

e trazem pedaços de carne nos dentes

e não se observa nada nessa nova identidade,

um fundo verde e uma pessoa amarela

no centro do fascismo canarinho rumo ao sul,

escape inevitável na ponta do funil de prata

por onde vai a merda que será bicho novo

que, minúsculo, comerá os bichos enormes

trazendo humildade, uma estátua de Confúcio,

cinco metros de metal no céu azul de septiembre,

que fica um mês mais bonito escrito assim,

essa utopia de cabeludas crianças passageiras,

os mil caninos de um compromisso selvagem,

no desejo de quedarme e pintarme de azul.