20.10.13

"álcool"


são firmes petelecos nos nervos
de tua quente fidelidade noturna.
palhaço sem calças, esqueces
tua simplicidade monumental,
a gagueira com que vencias
erros humanos sem pecado.

porque todo pecado é o certo.
há um dia em que se percebe
a mudez fratricida de tua lira,
engano roufenho de tua chave.
e abres tudo sem mover o fio
que te liga ao que foi proposto
e desafia tua tesoura barroca,
sem fio no fio de tua espécie.

esquina revelada do absinto
a rua em que, sem as noites,
dormem teus nervos de areia
ao se enrolarem no plástico
de tuas raízes sem tremores.

são firmes nervos, os petelecos
precisam inaugurar outro gesso.
é mau o novo gesso, ele é como
as primeiras ternuras da infância
quando se odeia o que se ama,
olho imenso a que apontastes
na gota infame do naufrágio.

agora, outra vez, as faculdades
dirão faça isso, morra por aqui.
e terás enfim um medo terrível,
um estúpido em tuas entranhas
agarrado aos cílios de tua vida.
mas são areias de outros ruídos
que formam o silêncio de deus.

4.10.13

"valquírias"

para claudia


viverei mil anos na galícia de tuas coxas,
teu pólen serão as ilhas onde descansarei
os navios apedrejados de minha esperança.
nos teus olhos, um enjambement de lírios,
nos teus quadris, minha galáxia herdada.
não falemos, então, nada além dos olhos,
firmarei em teus olhos minha vaga nação.
em sarabandas lunares repaginar carícias,
virar do avesso a ruína do segundo parto.
dentro de ti serei sempre o pastor anfíbio
e a violência explodirá em sutis enxadas,
enxadas e pisadas sobre nuvens velozes
e já não estaremos mais entre os mortos.
pelo instante em que tocarmos as pontas
do nosso milagre comum, afirmaremos
a comunhão das espécies e o sono do fim.