10.2.17

"tango para charly garcía"



é preciso correr muito rápido para não ter sorte.
sem sorte não é possível mais parar de correr.
somos nós bem ali na curva da ideia partida.
somos os donos do fim da ideia.
traga-me um sábado azul e uma vida perigosa.
porque existe um som infinito que nos persegue.
mas eu nunca entendi porque só consigo dizer nós.

é preciso muitos helicópteros e tiros de mentira.
ainda não será dessa vez isso não acaba assim.
helicópteros de mentira e balas de borracha.
somos o fim da mentira bonita.
cerca de la revolución o povo pede sangue.
ainda não se sabe se é rara a nova plumagem.
estou só numa sala imensa com pessoas lindas.

somos pássaros demolidores escravos da ventania.
é preciso saber que não foi para isso que viemos.
sinfonia de um mundo que começa em revoada.
somos o limite da boca possível.
são lindos encontros estes que prevemos mal.
existe um novo saturno no estômago recíproco.
estou só em nós com pessoas à espera de imenso.

4.2.17

"poema de aniversário"


tantas coisas poderiam ter acontecido
eu poderia ter caído na rua rolado
por cima de um carro morrido de amor
da fuga do amor perdido um olho
de fugir ou encontrar poderia ter sido
ou de tomar remédios ou de tédio
esse grande vilão por trás da nossa fé
poderiam ter acontecido até o fim
no metrô ou de joelhos diante de deus
com o coração espetado num garfo
quando as tesouras na mão os cutelos
sem fio veraneio na casa-fantasma
peneira macia bacia de pus e bloqueio
é a hora de regar plantas marrons
é a hora de ser amazona no cavalo nua
em pelo gritar vida salvar o amor
tantas coisas poderiam ter acontecido
fulminado por uma ideia meio-dia
trucidado por doenças de se viver triste
aniquilado pelo desafio no peito
mas nada aconteceu assim e por isso
é preciso dizer todo o resto foi
suficiente para romper mais uma vez
as amarras doutro dia e adorar
a passagem tenebrosa do meu sonho
e pedir mais sustos e passagens
mais vela rasgada mais sol histérico
calos como filhos para lamber
a ração de míssil que me trouxe aqui
bandeira branca tornada pano
os vícios e virtudes a total inutilidade
do que se ama intensamente.