para victor lampert
no sonho de ontem, eu
era uma criança
barbada,
com camisa do colégio
e um tênis vermelho
sujo.
estava na casa do
victinho,
que é mesmo quase uma
criança e não tem
barba.
havia uma festa
incômoda
na qual me divertia e
fazia
palhaçadas e
trocadilhos,
que são minhas aptidões
aqui na chamada vida
real.
havia outros velhos
mais
velhos do que eu também
vestidos como crianças
de colégio, mas
bêbadas.
a irmã do victinho, mas
nem sei se ele tem
irmã,
ouviu minhas palhaçadas
e me disse: você é
chato,
se eu fosse você eu
leria
um pouco deste filósofo
que atende por emmanuel
levinas e é chato como
você – vão se dar bem.
aquilo me ofendeu, mas
não muito: eu disse
puxa!
levinas: não tenho
roupa
pra isso, veja: sou
apenas
um estudante de
colégio.
com toda coragem fugi,
corri atrás de um
ônibus
cor de rosa como estava
também o céu, o
coração.
corri, entrei no ônibus,
bufei de prazer apenas
pelo compromisso de
ser uma criança lúcida.
quem dirigia o ônibus
era o famoso arruaceiro
neal cassady, e também
havia doidões com ele.
pedi para saltar no
meio
da ponte rio-niterói;
neal
disse: você é louco? eu
disse: assim como você,
vi o céu cor de rosa,
mas
esqueci a minha
mochila.
e agora eu quero estudar,
para entender o levinas.
agora que tenho
coração.
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