25.4.20

“no sonho era um céu cor de rosa”



para victor lampert

no sonho de ontem, eu
era uma criança barbada,
com camisa do colégio
e um tênis vermelho sujo.

estava na casa do victinho,
que é mesmo quase uma
criança e não tem barba.

havia uma festa incômoda
na qual me divertia e fazia
palhaçadas e trocadilhos,
que são minhas aptidões
aqui na chamada vida real.

havia outros velhos mais
velhos do que eu também
vestidos como crianças
de colégio, mas bêbadas.

a irmã do victinho, mas
nem sei se ele tem irmã,
ouviu minhas palhaçadas
e me disse: você é chato,
se eu fosse você eu leria
um pouco deste filósofo
que atende por emmanuel
levinas e é chato como
você – vão se dar bem.

aquilo me ofendeu, mas
não muito: eu disse puxa!
levinas: não tenho roupa
pra isso, veja: sou apenas
um estudante de colégio.

com toda coragem fugi,
corri atrás de um ônibus
cor de rosa como estava
também o céu, o coração.

corri, entrei no ônibus,
bufei de prazer apenas
pelo compromisso de
ser uma criança lúcida.
quem dirigia o ônibus
era o famoso arruaceiro
neal cassady, e também
havia doidões com ele.

pedi para saltar no meio
da ponte rio-niterói; neal
disse: você é louco? eu
disse: assim como você,
vi o céu cor de rosa, mas
esqueci a minha mochila.
e agora eu quero estudar,
para entender o levinas.
agora que tenho coração.

Nenhum comentário: