17.5.09


"Nós artistas somos indestrutíveis. Mesmo numa prisão, ou num campo de concentração, eu serei Todo Poderoso em meu próprio mundo de arte, até mesmo se eu tivesse que pintar meus quadros com a língua sobre o chão empoeirado da minha cela".


(Pablo Picasso, 1949)


"São Paulo 2007"

Frase anotada num guardanapo do Bar The Joy, situado na Rua Maria Antônia, 330 - Higienópolis, São Paulo:

"Minhas bases são vagas e meu futuro é imenso".

Diálogo que se deu no mesmo bar:

- Estive traduzindo uma peça de teatro. Você conhece Shakespeare?

- Vagamente.

- É que você tem o "physique du role" perfeito para fazer a protagonista feminina da peça.

- O que é "physique du role"?

- Você é o "physique", eu sou o "du role".

14.5.09

"ma vie en rose"

Este é seu, você que me chama de branco. Você que fala com o sol e tem milhões de protetores cósmicos, você redoma viva do meu bom-senso, este aqui é todo seu, minhas lágrimas que escorrem, e todas as lágrimas são de alegria e tristeza, sem distinção, mas este aqui é só para você, essência duradoura do meu rasgar de pele. Quero ouvir por muitos dias suas rezas sentada feito Buda com a janela aberta e o vento nas cortinas. Quero, sim, dormir de conchinha porque é quando somos todos os casais. Quero também te entregar meu discernimento raso, meu copo tão cheio de peso tão morto. Nós somos os carbornários, meu amor, as avalanches usam braços invisíveis para nos arrastar sem olhos. Mas agradeço, agradeço pela nossa comunhão de corpos, nervos e dores. Agradeço por cada pedaço arrancado na tentativa absurda de querer estudar o inqualificável. Agradeço por La Vie en Rose na versão de Grace Jones. Obrigado pelas noites dignas de Henry Miller e pelos ataques súbitos de emoção, por mergulhar com olhos ávidos no sopro convulso. Você que abre espaço com os próprios punhos. Você que tem fé nos sonhos e carrega a peso de uma filosofia ancestral. Você que me mostra cartas e jogos com moedas. Você fonte propulsora de energia rítmica. Você que me fala das mitologias chinesas e tem um riso que é puro marfim. Podemos estar sem braços, mas temos que nos dar as mãos. Não se esqueça, meu amor, nós somos os carbonários, os carregadores de verdades que ninguém quer saber. Não levaremos nada desse mundo, viemos para dar, nós somos o mercúrio diante da febre. E das manchas perpétuas da nossa existência crescerá a coisa pura, sem discrição.

1.5.09

EXTRA! EXTRA! HEAR ALL ABOUT IT! PINBALL WIZARD, THE MIRACLE CURE!



A ORELHA DO LIVRO, DO ABUJAMRA:


AVALANCHE


Esse autor não é fanatizado pelo árduo trabalho que é o fazer poesia. (João Cabral colocava um verso na gaveta, deixava seis meses e depois o buscava para ver se ainda servia para o poema inteiro).


Esse autor não é fanatizado por escrever biografias autorizadas ou não-autorizadas (conhecer os outros é quase impossível).


Esse autor é uma avalanche de vida toda fecundante de um estranho conhecimento de autores, atores, poetas, putas, números, literatura brasileira, portuguesa, européia profunda – enfim, nos deixa ao lê-lo com uma irrespirável vontade de fugir dos Gôngoras da inteligência.


Quer falar de tudo, sobre tudo, quer que Ezra Pound se foda, odeia os assassinos de Maiakovski, passa por Rilke como se as Elegias de Duíno fosse o livro mais popular do mundo – sobe em cima de Rita Hayworth, quer Neruda e sua poesia no poder, bebe Bukowski, esbofeteia Ulisses, não se preocupa com seus bagos sujos e mais mil coisas que o levam a escrever, escrever, escrever.


Essa avalanche tem uma honestidade de cristal como um Kierkegaard, seus poemas apaixonados e ao mesmo tempo distanciados brechtianamente fazem da leitura um prazer que deixa nossas diametrais vivências querendo saber onde vai chegar.


E isso é o que menos importa, pois quer ler Nietzsche e influir em seus escritos, quer ser Unamuno para ser Reitor da Universidade de Salamanca e enfrentar os fascistas de Franco achando que estão ainda ao nosso lado.


E estão.


É uma avalanche para lermos, e sobra ao poeta a clarividência e a fidelidade de suas idéias, cambiantes ou não, e leva esse livro com sua avançada juventude, para ele ter uma relevância central em sua vida.


Tem que escrever, mais, mais, mais e, de repente, escrever menos, menos, menos.

Essa é a engrenagem para a mecânica dos poemas entrarem em seus nervos e carne, palpitação, catedral de ânsia e beleza.

Antônio Abujamra
E, por favor, apareçam todos...