devagar minha cabeça encontra
o carnaval do meu
corpo.
vou freando as palavras
limpas
e sujo rimas a
contrapelo.
os versos são coisas
que andam
na mordaça dos desejos.
os livros são patas de
elefante
na estante das
angústias.
despejo disciplina de
cemitério
na marmita dos enganos.
esta proibição de se estar
feliz
gangrena em nós espécie
de perigosa desenvoltura
cristã.
é preciso cada um de
nós
ser aquele que tira
cada um de si
sem que seja preciso
fugir.
existe sempre algo a
ser erguido
dentro deste espaço
vazio
que existe num só fio
de cabelo.
por dentro deste pátio
sujo
há uma linda torre – babélica
–
entre nós, uma nova
força,
uma que espreme
expectativas
contra a boca de um
sonho,
então forjamos não ter
medo,
invadimos nus o fim de
tudo
que nem bem começou mas
sempre pareceu que acabaria.
corremos a crua demência
das ruas com olhos
arregalados.
internamos falsas
ofensas
na goela de tão belos
segredos.
e contigo quero
aprender
a esperar por tudo e
não fugir.
pois explodem as pregas
da nossa um dia jovem
sorte,
no calabouço da paixão.
nunca sozinhos nós gritamos
num silêncio de andaime:
ó paz fria dos nossos
mortos!
traíra do meu desprezo,
sorriso de mamão, um auxílio
de emergência que vem
de um demônio sem
cintura
e que talvez não caiba
no futuro da nossa espécie.
no estômago secreto
dessa marcha prenhe de
riscos
nasce uma pequenina
coragem fantasmagórica
de ir,
que só contigo inventei.
mas então eu era outro
e a vida,
nosso único desastre.
eles nos cercaram com a
ponta
de uma agulha de ouro
e nada do que podemos
fazer
facilita a dor de
alguém.
é bom também poder perder
ao teu lado, sugar
força
e derreter o iceberg de
fogo
no precipício que somos.