é como se um deus
amarrasse cordinhas
nas pontas finas da sua
maior invenção.
dois pés, duas mãos, um
senhor quadril,
que dança como sonhou aquele
alemão.
então, enfim, é como se
houvesse deus.
penso em deus porque é
difícil imaginar
que um só ser vivo
dance o tempo todo,
sem que mistério maior esteja
por trás.
quando acorda, dança,
quando dorme,
os sonhos de deus vibram
em algazarra.
quando eu não tinha meu
deus próprio,
você cuidou de mim como
um sentinela.
sem saber, eu trazia
deus em figurinhas,
e, de noite, rezava a
deus pela sua mão.
com nome de anjo,
inaugurou a beleza
no coração seco de
crianças sem brilho.
único a voar ao vivo, longe
das lendas,
carrega consigo a
promessa de um rio.
quando fala, é como um moisés
negro
fundando a escritura de
um povo triste.
quando sente dor,
quando trazem dor
ao seu corpo e ao seu
espírito de força,
é como se deus chamasse
para brincar
as crianças, alegres da
ilusão de poder
vencer deus através de um
ventríloquo.
sou grato pela fé que
sem saber havia
nos anos solitários sem
deus ou diabo.
agora sim entendo que
eu não morria,
que ao ver sua dança eu
via o milagre.