é muito difícil lamber
o próprio monstro,
dar a ele de mamar,
dizer te amo, monstro.
amo a sombra que paira
da tua presença,
quero que estejas para sempre
aqui comigo,
não quero te preterir
em relação ao anjo.
na verdade, te conheço
bem melhor que ele.
na verdade, fostes
sempre meu mais fiel
companheiro cuja
presença eu percebia.
quero sentir teu
remédio amargo porque
os sinos da serenidade
ainda não penetram
os ouvidos do meu
sentimento mais fundo.
habitas meus sonhos com
fidelidade serva,
onde estou sempre à
procura da mochila
num ambiente cáustico de
luxúria estéril.
já nos sonhos leves,
sem a tua presença,
acordo iludido pela
espiritualidade rasa
que pretendo ser minha,
mas é tua falta
que produz uma ausência
em mim de ti.
nos sonhos bons levo a
mochila nas costas,
ela não pesa porque não
tem nada dentro.
ao passo que a mochila
procurada em terror
é cheia de tudo o que
eu preciso e não tenho
e está sob o poder do
monstro que eu amo.
quero amar-te como a
ferida que me lembra
a queda de quando pensei
que me seguiam
os anjos que não falam
meu pobre idioma.
quero sorver, quente, tua
sopa de tamanco,
quero lustrar teus
chifres em pleno pecado,
lançar a carta que me
devolverás marcada
pela fúria do teu corpo
cascudo de leveza.
trazer-te na crista de
uma onda gigantesca,
beber essa água suja
com que afogaste a vida
falsa e angelical que
me matou sem reserva.
curar a pele do teu
combate contra o mundo,
fazer teu mundo girar
na órbita da minha ira,
cantar tua ira de pé e
com as costas curvadas
porque sem ti arregaço
as calças da esperança
e afogo a chance de um
dia estar no controle.
então abre os olhos, eu
quero ver teus cílios,
quero entender a dor
que espelha meu vacilo,
quero saber se ainda me
amas com firmeza,
quero ouvir teus
estrondos por cima da vida
e te embalar como o
bebê que eu nunca fui.
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