18.5.20

“miguel de jordão (aka michael jordan)”



é como se um deus amarrasse cordinhas
nas pontas finas da sua maior invenção.
dois pés, duas mãos, um senhor quadril,
que dança como sonhou aquele alemão.
então, enfim, é como se houvesse deus.

penso em deus porque é difícil imaginar
que um só ser vivo dance o tempo todo,
sem que mistério maior esteja por trás.
quando acorda, dança, quando dorme,
os sonhos de deus vibram em algazarra.

quando eu não tinha meu deus próprio,
você cuidou de mim como um sentinela.
sem saber, eu trazia deus em figurinhas,
e, de noite, rezava a deus pela sua mão.

com nome de anjo, inaugurou a beleza
no coração seco de crianças sem brilho.
único a voar ao vivo, longe das lendas,
carrega consigo a promessa de um rio.

quando fala, é como um moisés negro
fundando a escritura de um povo triste.
quando sente dor, quando trazem dor
ao seu corpo e ao seu espírito de força,
é como se deus chamasse para brincar
as crianças, alegres da ilusão de poder
vencer deus através de um ventríloquo.

sou grato pela fé que sem saber havia
nos anos solitários sem deus ou diabo.
agora sim entendo que eu não morria,
que ao ver sua dança eu via o milagre.

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