9.5.20

“um poeminha ruim”



quero a coragem agasalhada,
ser o meu pequeno sabonete.
calma, calma, diz a serpente.
você jogou pedra na estrada,
agora vai recolher as pedras,
esquecer a hora da chegada.
um poema feio pode servir,
um amor pequeno, limpeza
para o ódio imenso que era
viver sem poder viver aqui.
agora você está e não sabe
o que fazer com a presença
abandonada com as pedras
que davam ar de resistência.
jogar a toalha, só dá na luta,
essa não vista e que se deve
lembrar na alegria e no luto,
sentir como quem tem febre.
chamar o nome verdadeiro
do que sem nome te matou,
repisar a tua glória rasteira,
rasgar a pele do teu horror.
por odiar poemas rimados,
abandonava o falso critério
com que se carrega o fardo,
peso fúnebre do que é sério.
mas um braço aqui te pega,
te traz leve no pensamento.
ainda odeia, mas não é cego,
ainda é burro, mas é atento.
vem o dia, de hora em hora,
você não vê, mas ele acena,
em que a ira perde a espora
e a pouca sorte será poema.

Nenhum comentário: