14.5.20

“um poema japonês”


vez por outra um anjo torto
surge aos gritos e eu escuto,
pois sou da legião dos tortos
e não entendo o que sopram
os anjos plenos de sussurros.

penso eu que todo anjo torto
tem um quê de anjo japonês,
daquele que brilha de sujeira
e funda vida através da lama.
anjo sem ascese – anjo-buda.

todo japonês é poeta, aquele
que tatuou gatos nos braços,
pertence à máfia e assassina,
também coveiros, facínoras,
bem mais até que os poetas.

queria ser o japonês de mim,
saber que a corda só faz som
quando bem esticada e assim
ter na mão tesão de esticá-la.

um anjo torto veio e lambeu
minha ferida aberta e podre.
seja bem-vindo seu enxofre,
que cura dor com luz e breu

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