Quero falar sobre “Aprendendo a Viver”, compilação de crônicas de Clarice Lispector, escritas “ao correr da máquina”, nas palavras da própria, para o Jornal do Brasil, lida por mim em curso de viagem, pega emprestada de alma caridosa, sobre quem por acaso não sei nada a não ser que se chama Ana, usa aparelho nos dentes, tem cabelo afro e vai me levar ao show do Caetano Veloso em Santo Amaro da Purificação, su tierra nativa, como diria Vinicius de Moraes no seu elegante castelhano bêbado.
Adoro quando leio sobre uma felicidade que não é a minha felicidade, muito menos a de quem a escreve.
Clarice, nessa estranha compilação de textos bruxos, profundos na simplicidade de uma raiz exposta, alguns alucinados, como quando viu cores a mais no Jardim Botânico, mas todos escritos como se come um algodão doce, apesar de finais eminentemente trágicos e pessimistas, como por exemplo em O Impulso: Não sou madura bastante ainda. Ou nunca serei; ou em Banhos de Mar: Nunca mais? (parágrafo) Nunca mais. (parágrafo) Nunca; a Clarice dessas crônicas – porque ela só pode mesmo ter sido muitas mentirosas, até que, usando agora suas próprias palavras, comecei a mentir até a minha própria mentira e decaí tanto que a mentira eu a dizia crua, simples, curta: eu dizia a verdade bruta, enfim, essa Clarice é como esse turbilhão, só que com muito talento para dizer a crueldade humana nos pequenos detalhes cotidianos, o inferno de não se poder ser múltiplo, apesar de todos os esforços para isso, ela fala sobre a felicidade pequena de um fruto de aroeira esmagado com a sola do pé ou no sal lambido dos braços na volta de bonde da praia de Olinda, todas são pequenas realizações que aproximam a escritora da verdade mais singela, aquela mesma que abraça o mundo e suga nossas tentativas, aquela que se repete como mantra sem nem ao menos podermos nos dar conta dela, e Clarice fala tudo como uma pessoa que nunca sorriu sem um propósito sério. Acho, sim, que quando ela sorri levemente, não é ela.
Em suma: como Lispector é triste, fala melhor sobre a felicidade porque, no caso dos tristes, ela é sempre menos insossa.
Agora, uma pérola Lispectoriana:
Adoro quando leio sobre uma felicidade que não é a minha felicidade, muito menos a de quem a escreve.
Clarice, nessa estranha compilação de textos bruxos, profundos na simplicidade de uma raiz exposta, alguns alucinados, como quando viu cores a mais no Jardim Botânico, mas todos escritos como se come um algodão doce, apesar de finais eminentemente trágicos e pessimistas, como por exemplo em O Impulso: Não sou madura bastante ainda. Ou nunca serei; ou em Banhos de Mar: Nunca mais? (parágrafo) Nunca mais. (parágrafo) Nunca; a Clarice dessas crônicas – porque ela só pode mesmo ter sido muitas mentirosas, até que, usando agora suas próprias palavras, comecei a mentir até a minha própria mentira e decaí tanto que a mentira eu a dizia crua, simples, curta: eu dizia a verdade bruta, enfim, essa Clarice é como esse turbilhão, só que com muito talento para dizer a crueldade humana nos pequenos detalhes cotidianos, o inferno de não se poder ser múltiplo, apesar de todos os esforços para isso, ela fala sobre a felicidade pequena de um fruto de aroeira esmagado com a sola do pé ou no sal lambido dos braços na volta de bonde da praia de Olinda, todas são pequenas realizações que aproximam a escritora da verdade mais singela, aquela mesma que abraça o mundo e suga nossas tentativas, aquela que se repete como mantra sem nem ao menos podermos nos dar conta dela, e Clarice fala tudo como uma pessoa que nunca sorriu sem um propósito sério. Acho, sim, que quando ela sorri levemente, não é ela.
Em suma: como Lispector é triste, fala melhor sobre a felicidade porque, no caso dos tristes, ela é sempre menos insossa.
Agora, uma pérola Lispectoriana:
MAIS DO QUE UM JOGO DE PALAVRAS
O que eu sinto eu não ajo. O que ajo não penso. O que penso não sinto. Do que sei sou ignorante. Do que sinto não ignoro. Não me entendo e ajo como se me entendesse.
PS: o retrato de Clarice que ilustra a postagem foi pintado pelo grego Giorgio De Chirico.