neste momento estou
cercado de tragédias,
que me fazem mais humano
e desastrado.
livro-me de bons amigos
como de pulgas,
dou-me conta de que são
bons só para eles,
ou nem isso – se gostam
de mim, são ruins.
por outro lado, eu tenho
estado cercado,
neste momento, de figuras
saltimbancas,
que trazem a ridicularidade
dos santos,
que abrem mão de tudo que
podem ver
para ficar apenas com o
que não sabem,
mas trazem dentro de si e
chamam deus.
há nessas figuras
qualquer coisa de vil,
de inumano, que se inclina
ao divino e
ri diante da nossa farsa
de benfeitorias.
alguns não saem de casa
nunca, outros
vivem nas ruas porque dão
à pobreza
o papel de musa
inspiradora, amante.
os bons amigos, percebo, é
provável,
também precisem de musas
galantes.
mas temem perder tempo procurando
coisas que não sabem dentro
do vazio.
infelizmente não sou
beatriz, dulcineia,
angélica acorrentada, nem
a liberdade
como guilhotina com os
peitos de fora,
pintada por certo francês
de se chamou
eugênio da cruz – ele
também – eu não
mais serei menestrel da
tortura idílica
com que alguns cantam
suas vitórias
e despejam as derrotas na
vala escusa
do ressentimento que surge
ao verem
que nada é suficiente
nunca – o ar frio
que penetrou nossas veias
de bondade
torna burro o balanço do
barco bêbado.