14.9.25

"uma gripe antipática"


com o pensamento

no cérebro de

ledusha spinardi

 

alvéolo insone da paixão,

enfisema colorido do fim,

anacronismos pulmonares,

brônquios broncos, gangs

de violência ansiolítica

nos pirulitos da bondade,

adolescentes da liberdade,

balões de amor se tornam

lentamente não tão jovens

estabelecidos por aquiles

– aqui me corrijo, aqueles,

que destruíram esse amor

em troca de sentir-se bem

como se sentem os ruins.

 

estou gripado do mundo

onde boiam pessoas briosas

por uma nota de página

na história do fim do amor.

 

queria eu mesmo fazer

uma tarantela de amor

como um franciscano

– beijar a lepra e ver,

no resultado da lepra,

chagas dum cristo vivo.

 

mas, como ele, vacilo

à procura do prateado

fio da vida irresoluta.

 

chego em casa, concluo:

a grande sensação não é

em geral a boa, a melhor.

miragem de emergência,

saída para lugar nenhum.

 

talvez seja que as coisas

grandes sejam nada mais

do que força que esmaga

miúdas coisas que fazem,

como diziam os antigos –

a vida valer a pena – não

para nós – dizia a barata.

 

pasmaceira de bravatas

sociais para oficializar

as biografias eficientes

ao puto tempo histórico.

 

na olimpíada do maior

coração, aspiro o muco,

e cada facada nas costas

se resolve com um beijo

de brutus, sem um julio

que transporte a matilha

para além de agosto, que

por um milagre da carne

jogou-me a carcaça viva

na viela dos sem-perdão,

na sopa rala de setembro.

.

sonho catarro de esperança

enquanto, no fio da dúvida,

feito um vulto o dia avança.

presságio de cama, estacas

no peito abrigo de ratazanas

disfarçadas de gatos caseiros.

transporto, portanto, no peito,

criaturas muito semelhantes

a pessoas que eram próximas

e agora são um chiclete duro,

semântica de espirro ordeiro

num poema que melhor seria

de uma lêda, de um bandeira

– mas cada um tem a poesia

ou a pneumonia que merece.

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