5.9.25

"aos bons amigos"


neste momento estou cercado de tragédias,

que me fazem mais humano e desastrado.

 

livro-me de bons amigos como de pulgas,

dou-me conta de que são bons só para eles,

ou nem isso – se gostam de mim, são ruins.

 

por outro lado, eu tenho estado cercado,

neste momento, de figuras saltimbancas,

que trazem a ridicularidade dos santos,

que abrem mão de tudo que podem ver

para ficar apenas com o que não sabem,

mas trazem dentro de si e chamam deus.

 

há nessas figuras qualquer coisa de vil,

de inumano, que se inclina ao divino e

ri diante da nossa farsa de benfeitorias.

 

alguns não saem de casa nunca, outros        

vivem nas ruas porque dão à pobreza

o papel de musa inspiradora, amante.

 

os bons amigos, percebo, é provável,

também precisem de musas galantes.

mas temem perder tempo procurando

coisas que não sabem dentro do vazio.

 

infelizmente não sou beatriz, dulcineia,

angélica acorrentada, nem a liberdade

como guilhotina com os peitos de fora,

pintada por certo francês de se chamou

eugênio da cruz – ele também – eu não

mais serei menestrel da tortura idílica

com que alguns cantam suas vitórias

e despejam as derrotas na vala escusa

do ressentimento que surge ao verem

que nada é suficiente nunca – o ar frio

que penetrou nossas veias de bondade

torna burro o balanço do barco bêbado.

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