tenho matéria e sou, portanto,
algo mau.
dentro de mim cada dia
é um país diferente,
é difícil mudar de país
todo dia, perguntem
aos ciganos e aos
grande animais voadores.
o demônio vem do deus
puro dos espíritos.
contra a vontade de
nada, nada de vontade.
a justiça é
necessariamente um vingança,
enquanto que os puros espíritos
fogem à lei.
é proibido comer cajá de
um certo pé de cajá.
isso quer dizer que
alguém na casa quer cajá.
o demônio é um
monomaníaco, ao passo que
o anjo – grande surpresa
– é um hipocondríaco.
no momento em que descubro
minha vontade
de comer mamãe e matar
papai, começo a ter
vergonha do meu próprio
desejo, estou na lei.
existem na obra desse
menino (como é mesmo
o nome dele? herman melville) três personagens:
o demônio, o anjo e o
profeta, que quer matar
os dois primeiros, mas
matar o demônio parece
impossível, porque o
demônio é rápido demais,
ao passo que o segundo
não pode se mover,
então o profeta só
consegue matar o anjo
e o demônio se mata
junto com o seu alvo
de destruição total, e
nós continuamos aqui,
como as exemplares
figuras coadjuvantes,
ainda mais tristes
porque somos capazes
de entender o que há de
mais importante:
literatura é mostrar a
vida como viagem.
tenho uma pergunta a
fazer ao professor:
não parece uma bela
sacanagem que o anjo
não se mova e seja
destruído pelo profeta
enquanto o demônio
escapa? seria a prova
de que a vida não passa
de um programa
da vitória inevitável
do mal permanente?