21.10.21

"sobre a eternidade"


uma pessoa é eterna

quando te faz querer

escrever um poema

sobre ela, sobre isso:

uma pessoa como tu,

que imagino sempre

a correr com crianças,

como mais uma delas,

uma criança muito séria,

a ponto de outras crianças

dizerem para o teu corpo

sempre maior que o delas:

tu és pessoa séria demais

para não ser uma criança.

 

eternizar é também isso:

imaginar sem poder ver,

cheirar os cabelos do sol

com os olhos fechados

na fantasia da pele do sol,

então pensar em cavalos

que corressem na água

ao ponto da eternidade

caber nas mãos fechadas

dessas mesmas crianças

com as quais tu corres,

e quando surges na tarde,

com tua doce avalanche

devastas a pequena vida

com enigma de vulcões.

 

eterno talvez seja algo

que nunca vi se mexer,

algo como uma foto

preta e branca que é

como, imagino, sejam

todas as personagens

de todos os poemas

de todos os tempos,

eu mesmo talvez seja

uma daquelas crianças

com os mesmos olhos

que já olhei por horas

e nunca vi se mexer.

o que, sem se mover,

talvez seja a origem

de tudo que morre.

 

Nenhum comentário: