24.10.21

"uma aula de claudio ulpiano"

 

tenho matéria e sou, portanto, algo mau.

dentro de mim cada dia é um país diferente,

é difícil mudar de país todo dia, perguntem

aos ciganos e aos grande animais voadores.

o demônio vem do deus puro dos espíritos.

contra a vontade de nada, nada de vontade.

a justiça é necessariamente um vingança,

enquanto que os puros espíritos fogem à lei.

é proibido comer cajá de um certo pé de cajá.

isso quer dizer que alguém na casa quer cajá.

o demônio é um monomaníaco, ao passo que

o anjo – grande surpresa – é um hipocondríaco.

no momento em que descubro minha vontade

de comer mamãe e matar papai, começo a ter

vergonha do meu próprio desejo, estou na lei.

existem na obra desse menino (como é mesmo

o nome dele? herman melville) três personagens:

o demônio, o anjo e o profeta, que quer matar

os dois primeiros, mas matar o demônio parece

impossível, porque o demônio é rápido demais,

ao passo que o segundo não pode se mover,

então o profeta só consegue matar o anjo

e o demônio se mata junto com o seu alvo

de destruição total, e nós continuamos aqui,

como as exemplares figuras coadjuvantes,

ainda mais tristes porque somos capazes

de entender o que há de mais importante:

literatura é mostrar a vida como viagem.

tenho uma pergunta a fazer ao professor:

não parece uma bela sacanagem que o anjo

não se mova e seja destruído pelo profeta

enquanto o demônio escapa? seria a prova

de que a vida não passa de um programa

da vitória inevitável do mal permanente?

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