o cavalo arreganha
os dentes para o beijo.
há uma infinita beleza
na remela de seus
olhos.
resplandecem os olhos
do cavalo maltratado,
de joelhos na terra
dura
choro pela primeira
vez.
determino o ponto
de vista do chicote.
ele brilha no estalo
enquanto de joelhos
pereço a sua frente
em grotesca afeição.
um dia brilhei eqüino
e carregava o chicote.
agora de joelhos vejo
nas remelas do cavalo
a curiosa antecipação
da nova fraternidade:
o chicote noutra mão.
beijo a boca do cavalo
de joelhos, aos
prantos.
atenho-me ao relincho
que outrora saía rouco.
e agora o cavalo mudo
evolui minha trajetória
sem relincho e os olhos
remelentos de suportar
um fardo insignificante
mas de todo modo letal.
penso no resto do mundo,
o resto do mundo é tudo
o que não sou eu – aquilo
que relincha – e o
chicote
brilha como o último
sol.
o cavalo não me olha
nos olhos enquanto
eu quero o seu bem,
enquanto sinto amor.
atravessei a orquestra,
deus depôs o sapatear
e cavalos não dançam.
e te lanças ao inverno
em forjada redenção.
Um comentário:
Muito bonito, árido e de uma secura rigorosa, treinada. dá para sentir um certo fim de claustro, um fino escape de ar, sopro de alívio exausto como leve ruído no texto.
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