amo mais quando não
digo.
insuficientes
articulações –
te amo, duas palavras
feias.
pois eu preciso do teu
ódio.
na incompetência de
tornar
este ódio bonito, cumpre-se
a média arte do amor
falado.
amar o que se
corresponde
é doce, intensamente
vazio
porque é pleno de
certezas.
a fala é o desgaste do
certo.
mas o amor nunca saberá
quando os ratos
invadirão
a arte ineficaz das
palavras
com um medo nunca
visto.
o amor então se realiza
no amor ao rato que é
amor à invasão brusca
que nada é além disso.
a morada foi tomada
pelo címbalo do nojo.
matar pela vida, e cair
soldado morto a rosas.
não combaterei já que
o amor não usa armas.
ele é a bandeira branca
rasgada após o ataque.
e o lar é esta miragem
que engole as pernas
e faz baterem queixos,
juntar ossos em buquê.
mas ainda não temos
botões com intenções
nas entranhas da vida.
pode-se cobrir a ideia
com flores e preparar
sonhos em labirintos.
no mais não é possível
saber nomear a língua
do crime perpetrado.
criminosos somos nós
porque vimos os céus
e arrancamos os olhos
e pedalamos trovões.
aqui restam os ratos,
adoráveis pelo pavor
epilético de sua fuga.
ratos não amam, eles
correm e abrigam-se.
fugimos agora do lar:
amar é seguir o medo.
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