4.4.15

"sete de espadas"


amo mais quando não digo.
insuficientes articulações –
te amo, duas palavras feias.
pois eu preciso do teu ódio.
na incompetência de tornar
este ódio bonito, cumpre-se
a média arte do amor falado.

amar o que se corresponde
é doce, intensamente vazio
porque é pleno de certezas.
a fala é o desgaste do certo.

mas o amor nunca saberá
quando os ratos invadirão
a arte ineficaz das palavras
com um medo nunca visto.

o amor então se realiza
no amor ao rato que é
amor à invasão brusca
que nada é além disso.

a morada foi tomada
pelo címbalo do nojo.
matar pela vida, e cair
soldado morto a rosas.

não combaterei já que
o amor não usa armas.
ele é a bandeira branca
rasgada após o ataque.

e o lar é esta miragem
que engole as pernas
e faz baterem queixos,
juntar ossos em buquê.

mas ainda não temos
botões com intenções
nas entranhas da vida.
pode-se cobrir a ideia
com flores e preparar
sonhos em labirintos.

no mais não é possível
saber nomear a língua
do crime perpetrado.
criminosos somos nós
porque vimos os céus
e arrancamos os olhos
e pedalamos trovões.

aqui restam os ratos,
adoráveis pelo pavor
epilético de sua fuga.
ratos não amam, eles
correm e abrigam-se.
fugimos agora do lar:
amar é seguir o medo.

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