as conquistas são os pregos
num
caixão pouco aplaudido.
desse modo me veio a ideia
do poema que eu teria escrito
em homenagem a meu velho,
que é tipo um torquato vivo.
teria sido um poema rimado
daqueles que só as crianças
e os poetas antenas-da-raça
podem escrever sem mágoa,
pois sem sofrer é impossível.
agora o poema largou do pai,
foi dar a mão ao morto-vivo.
as rimas se tornam a mancha
com que fazemos pobre ceia.
nunca chegaram os dias azuis
na veia aberta do verso antigo.
corre o tempo, até o parapeito
se cansou de por pena escutar.
os punhos da rede se demoram
na salvação do poema e do dia.
somos aqui a sobra da tua ceia,
com sorrisos de duração flácida
e ansiedades de púrpura asfixia.
não há sentido em liberar o gás,
as pernas já caminham sozinhas,
os canos há muito apodreceram.
a mim cabe estar vivo e inteiro,
de não poder voltar, insatisfeito,
eu também, ao eu-menino puro.
deitar a palavra, sem dar o pulo.
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