finalmente estão em
silêncio, alguns.
outros ainda rosnam, já
que tragédias
são como prêmios de
conduta poética
quando o verso já não mais
prevalece
porque a realidade é
esse prato cheio
e os cadáveres certos
são o cardápio.
me interessam mais os
que não sabem
o que dizer, o que
pensar, o que fazer
– os que não sabem nem
o que sentir.
nunca houve paz entre
seres humanos,
e a paz entre os poetas
é a indiferença
porque não tivemos determinada
sorte
da qual abusou aquela
ou aquele mau
poeta, que é um cidadão
de carteirinha.
porque poetas são talvez
como cavalos
– os cavalos sem dúvida
mais bonitos –
correndo atrás de
coisas que são vistas
na limitação de um
cabresto de sonhos
que impede a visão da
tristeza coletiva
e dá méritos a peitos
estufados de raiva
na corrosão do que
teria sido ao menos
uma firme irmandade
através da dúvida
ou mesmo através da
empatia duvidosa.
me incomodam poetas que
têm certeza,
porque retificam o
propósito da poesia,
que é curva infinita da
qual se acumula
a crosta de derrota que,
como os cavalos,
leva a beleza adiante em
meio aos gritos,
apesar de um cabresto
que define a falsa
convicção de que os cadáveres
são a arte
que nos falta e gritá-los
seja suave trilha,
caminho que nos traga
alguma redenção
e nos afaste do ódio
que temos por todos.
se pelo menos nos
admitíssemos odiosos
ou odiáveis, mas sem o
dedo que aponta,
haveria tranquilidade
para sentar e chorar.
mas amamos a nós mesmos
em demasia
para compensar outro
amor exterminado
na ideia equivocada do
amor e do cavalo.
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