com furiosos engajamentos matinais
por pautas confusas,
sempre convicto,
acorda tarde e sem paz
o novo ídolo.
sua violência são telas
que atropelam
o silêncio dos menores,
a quem escapa
um fio de meada, por
isso não esperam
a necessária anunciação
do novo ídolo.
e dentro do novo ídolo,
um novo gênio,
porque é preciso rápido
um novo gênio!
é preciso ser um homem –
infelizmente.
pois gênios mulheres,
todos já sabemos,
não servem para encaminhar
toda gente
e a poesia de gênio é
um caminho reto
até o centro criativo
do que chamamos
última etapa de uma longa
decadência.
há várias exigências, pr’além
do gênero,
na concepção deste hoje
tão necessário,
imprescindível novo
gênio das palavras,
coisas que, de forma
aparente, ao leigo,
nada tem que ver com a
criação literária:
ter nos pés sapatos sempre
desamarrados,
com solas sempre
gastas, ainda que novos,
porque este novo gênio
pesa mil toneladas
quando pisa com nova fé
a terra devastada.
e, quando pisa, sacode
na árvore da poesia
os frutos maduros,
alguns podres, aqueles
quase prontos para se
tornarem uma nova
árvore ou linda dor de
cabeça para o povo.
mas na manhã do novo
mundo, da nova era,
o novo gênio acordará e
limpará as remelas
e anotará, ainda
sonado, num papel simples:
“buscar com fé um mamão
que seja barato”,
e a questão do mamão será
a coisa mais cara.
precisamos tanto do novo
gênio das palavras,
que o fato, de todo
realista, da ideia do gênio
como algo que as épocas
olham de binóculos
pelas janelas de um trem
de carga em chamas
é uma piada lírica no
fim de um longo poema
coberto de esperança
por este que virá quando
finalmente jogaremos no
lixo da história o zelo
com que olhamos pelos
binóculos o nosso lixo.
e todas as épocas, de
mãos dadas, farão a dança
no sabá das mais
estranhas e indefesas criaturas,
às quais o novo gênio
das palavras trará a chama,
o trem, a janela e o
peso de um milhão de quilos,
a velocidade da qual não escapa época
nenhuma,
para tocar fogo na
palha fina do mais puro talento.
e nós lamberemos o talento
como a pedra fictícia
no muro diante do qual
o novo gênio das letras,
como a madrasta que
cuida de órfãos, se ajoelha
e dá à luz a nova era
com psicanálise justificada:
sonhos alienígenas costurados por livros mudos.
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