um violino boia na
água,
sinto falta das pessoas
que mais amo, lembro
da minha mãe, estranho
pensar que ela morreu
já faz tempo e é como
se morta ela nunca mais
saísse de perto de mim,
e ainda acontece que eu
não preciso cuidar dela:
é ela que cuida de mim.
é um privilégio, penso,
de não se morrer ainda.
um amigo escava o chão,
outro conhece as ruínas
de um tempo muito lejos
quando a selvageria era
algo que vinha do
coração.
um terceiro evacua
sangue
e aqui eu sinto falta
talvez
de uma espécie de
coração
que reunia os erros
bonitos
cometidos na feia
intenção
de reservar ainda tempo
para que pulsasse ânimo
de esticar ainda a
corda
e apertar a mão no
bolso
como alguém que precisa
de toda coragem do
mundo
quando as balsas se
perdem
na direção de outro
infinito,
esfera de mistério na
fratura
de um velho vulcão
cansado.
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