devo ter visto meu pai
chorar cem vezes.
podemos assim
considerar que,
na esfera dos pais,
o meu até que é bem
chorão.
de todas essas vezes,
pelo menos oitenta
foram choros movidos
pelo futebol,
muitos dos quais eu mesmo
compartilhei
– eu que choro muito mais
e por tudo.
dez foram choros de
morte ou de grande fracasso,
num tempo em que
considerávamos, meu pai e eu,
que a morte era um
grande fracasso dos vivos
– hoje em dia tenho lá
minhas dúvidas sobre isso.
outras sete vezes foram
porque alguma coisa era
surpreendentemente
bonita:
lembrança, visão
repentina,
algo que se diz com os
olhos.
duas foram choros de
raiva de mim,
de vontade de me matar,
me trucidar,
vontade de que eu nunca
tivesse nascido
e a consequente
vergonha que isso causa
naquele que ama com
verdade o que odeia.
uma única vez meu pai
chorou porque escrevi
um poema ou trecho de alguma
coisa bonita.
não acho que isso vá
acontecer com este aqui.
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