para ana botner
gosto de me instruir com
adolescentes,
as pessoas por quem
tenho mais afeto
variam entre quinze e
vinte e cinco anos.
as crianças menores, que
hoje são como
miniadultos, adultos
anões ou bonecos,
estas desconfiam de mim
porque nelas
já estão os olhos de
águia do usurpador.
devo ter uma alma muito
pobre para que
tantas crianças entre
cinco e quinze anos
me olhem com
desconfiança e até medo.
os adultos, a grande
maioria, são crianças
com pés grandes e mais
pelos, que sabem.
então com eles é uma
guerra de sabedoria
e eu quase nunca venço
uma guerra assim.
mas a minha maior
devoção vai às crianças
que vivem antes da
palavra, que são olhos
expressivos e
comunicantes, que são bocas.
elas querem me falar o
segredo do mundo,
eu sinto quando as vejo
em colos veteranos
que elas querem me
ajudar, que elas sabem
o que nos traz até essa
tristeza tão tranquila.
é nos olhos dos bebês
de colo que achamos
o coração do comunismo
sem partidarismo,
por isso os pais furam
os olhos das crianças.
e mesmo cegas seu ódio
será a trilha da paz
no centro de um furacão
hormonal de caos,
com cadernos vermelhos
debaixo do braço
e a supernova usurpada
na ponta da língua.
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