tenho uma noção de higiene
muito diferente da maioria das pessoas.
penso, ao contrário de todas as pessoas,
que a higiene é tão bonita que devemos
desempenhá-la em público, com orgulho
desse ritual de purificação do corpo.
dito isso, admito neste poema
que sou uma dessas pessoas
que tira catota em público.
o resto das pessoas considera que este
é um ato rude, inapropriado, deselegante,
elas creem que o correto seja esconder-se
num recinto feito para tirar catota, além
de todas as demais escatologias, a merda,
o mijo, o amor explícito, e às vezes damos
a este recinto secreto da plena vida cotidiana
nomes bonitos como toalete, lavabo, dejetório.
portanto, se um dia me virem na rua
com o dedo no nariz e os olhos fechados,
não sintam nojo, pensem: ali vejo uma fé.
porque tirar catota em público é como
uma oração a Diógenes frente à explícita
limpeza que assassina e pela comunidade
de toda sujeira que, em quartos secretos,
explode a vida em merda, mijo ou gala;
além do que, catota é uma palavra bonita.
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