31.1.23

"poema da catota"


tenho uma noção de higiene

muito diferente da maioria das pessoas.

penso, ao contrário de todas as pessoas,

que a higiene é tão bonita que devemos

desempenhá-la em público, com orgulho

desse ritual de purificação do corpo.

 

dito isso, admito neste poema

que sou uma dessas pessoas

que tira catota em público.

 

o resto das pessoas considera que este

é um ato rude, inapropriado, deselegante,

elas creem que o correto seja esconder-se

num recinto feito para tirar catota, além

de todas as demais escatologias, a merda,

o mijo, o amor explícito, e às vezes damos

a este recinto secreto da plena vida cotidiana

nomes bonitos como toalete, lavabo, dejetório.

 

portanto, se um dia me virem na rua

com o dedo no nariz e os olhos fechados,

não sintam nojo, pensem: ali vejo uma fé.


porque tirar catota em público é como

uma oração a Diógenes frente à explícita

limpeza que assassina e pela comunidade

de toda sujeira que, em quartos secretos,

explode a vida em merda, mijo ou gala;

além do que, catota é uma palavra bonita.

 

 

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