para Vó Zula
por que diabos fui
encontrar deus
justamente nessa casa
de paz fria
com pessoas famintas na
porta e
pessoas com medo que
entram?
por que foi que entrei
eu mesmo
porta adentro e senti
eu mesmo
paz quando saí do mundo
e caí
na teia de uma calma só
minha
com orelhas quentes de
pecado
e calos doídos de ter
caminhado
para baixar adrenalina
sintética
de toda uma geração de
girinos
que nadam por dentro da
fossa
de uma desolação azul
ou cobre
mais dentro ainda na
veia viva
de um pavor estancado em
pus?
mesmo assim você entrou,
diria
você com aquele
vozeirão lindo,
diria ainda que fui
presa porque
talvez eu precisasse de
um aval
mais banal do que a
pequena fé
que envolve a todos que
fecham
os olhos e esperam um
milagre.
mas também é belo que
me junte
a essa horda de miséria
humana
que também me corrói os
cascos
e acena com alguns bons
efeitos
de uma deliciosa
catarse pagã,
onde seres da floresta
excitados
interrompem com rijo
membro
o futuro acadêmico de
donzelas.
não encontrei deus, é claro,
como
nunca encontro ou
encontrei deus
em lugar nenhum, mas,
por ironia,
senti, justamente nesse
lugar onde
a gente não é nada e a
gente pede
sem nunca saber se o
dia chegará
em que deus será apenas
a forma
simples de amar as
coisas sem ter
nem mesmo a coisa, mas
um fim
assim meio nebuloso
como sonho
com mãos suadas e
acordos frios.
não deixaria você,
vozinha, sem
um poema, já que você
esteve lá
quando, criança sem
mãe, recebi
o demônio diante das
tuas carolas
que disseram é melhor
deixar ele
respirar lá fora, e eu
nunca mais
tinha voltado nesse quarto
vazio,
mas aqui está seu neto,
minha vó,
este que já não morre
tão rápido,
reza o pai nosso e pode
até mentir.
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