10.10.22

"bajo el vientre"




cheio de cédulas e moedas

enfiadas duras bajo el vientre

sigo solo por las calles ardientes

digerido e vomitado pelo vento.

 

descanso e compro um boné roxo

retirando as moedas e as cédulas

de bajo del mi vientre con amor.

 

é bonito um boné assim eu penso

todo roxo como en bajo el vientre

como a cara estampada na cédula

un señor como que roxo asfixiado

penso que de tanta plata ou aires

de importância, jagunços ávidos

da ganância estrangeira e branca.

 

mas sigo hasta el rio dónde niños

treinam futebol com sus novias

o amor a broma a brisa a brava

sorte de estar de pé emocionado

da terrível sorte de estar perplexo.

 

são pessoas brancas mas a mim

parecem aborígenes, africanos,

chineses, hindus, zapatistas o sea

a mim em suma são como seres

que fundaram algo e que depois

foram usurpados isso me parece

exato enquanto observo seus olhos

o modo displicente como se tocam

uns nos ombros dos outros e se dão

beijinhos nos lábios e nas bochechas

para ao mesmo tempo dizer te quiero

e também dizer te caliento soy tuyo.

 

entonces cambio de humor e apanho

meus fones de ouvido para escuchar

un rato de nuestra música tupiniquim

que é minha forma discreta de vestir

a tanga e desempenhar meu afeto livre

por um país tão imenso quanto perdido

e tão mais com medo do que eu mesmo

sem grandes epopeias porque nele pulsa

cérebro de peixe além de tripas firmes.

 

a tripa aguenta ainda o suficiente

para que eu siga pela beira do rio

escuchando manduka luiz melodia

sergio sampaio e o maior de todos

joão gilberto que canta olha o jeito

nas cadeiras que ela sabe dar e isso

enche meus pulmões de uma gana

toda nuestra toda tupiniquim que é

gana extra já sabemos não estamos

de férias pois aqui é o fim do mundo

salve amado brasileiro torquato neto

tua cabeça amassada é nossa pulga

que coça atrás da orelha do sonho

isso já ficou bem claro só que ela

está comigo o som e o sol não sei

mas aqui ninguém adivinha, aqui

não tem magrelinha ni naranjita

aqui no fim da linha uma donzela

que parece na verdade uma pantera

desliza de patins cai enxuga a cara

e no fim da trilha me lanço aos pés

da estátua de confúcio e leio sobre

direitos humanos de antes de cristo

quando a gente era ainda próxima

dos deuses da violência preliminar

que me traz de volta à ciudad vieja

e lembra cristo padre madre abuela

e sento para respirar fechar os olhos

por dez minutos numa igreja vazia

abro os olhos vejo a missa começa

o padre fala sobre direitos humanos

de depois de cristo e parecem menos

realistas mais heroicos espalhafatosos

que os direitos humanos de confúcio.

 

na convocação para comer a hóstia

me quedo em ligeira hesitação suína

mas depois penso que até os porcos

são filhos de deus então lavo o rosto

com água benta e dou todas as duras

moedas e cédulas bajo en el vientre

a um mendigo tan guapo como yo.

 

dali sigo ouço ¿por que no un rock

porteño tanguito charly luis alberto

ou aquelas bandas de fazer rodinha

tão bonito aqui eles chamam pogo

manal redonditos pescado rabioso

e que possa então finalmente chorar

e se eu cair que nunca me amargure

a loucura que nunca disse a ninguém

que ela venha comigo e me embale

com o carinho de uma mãe oriental:

república oriental do meu sonho vivo.


Nenhum comentário: