31.10.22

"o pai tá on"




você estende seus quatro dedos

e pede água porque está rouco.

então de novo, forte e pequeno,

você penetra a cabeça do povo,

trazendo um alimento tão doce

que é a palavra bendita, a frase

que vira a seta para alguma luz.

 

metade gente, metade monstro,

não pudemos cantar teu nome

como o totalitário sim ao amor.

 

havia choro contido, presidente,

havia na alma uma represa de pus.

agora arde e, se arde, já sabemos,

cura, e se aperta segura, foi você,

na verdade, que nos fez aprender

a dar vida aos ditados populares

e trazendo de volta a imaginação

que fugiu daqui tem quatro anos.

 

falando apenas por mim quero arder

outra vez na convulsão do carisma

com que os deuses te presentearam:

tu, criança jesuíta que mil Herodes

não puderam matar, agora desperta,

rebolando, dançando cheia de tesão,

nos dizer É PRECISO TER TESÃO

porque não é possível que a barbárie

seja a base irretocável do nosso gesto.

 

com um jeitinho de se movimentar

todo particular você vem, sem voz,

gritar os nomes que desapareceram,

invocar todos os nossos ancestrais,

arrepiando os pelos de meio país

que precisava tanto de algo bom,

que é justamente você, presidente,

que lembra que não somos duros

ressentidos vazios de eros e amor,

mas o povo pela metade que cura

o rasgo na pele com a saliva justa.

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