27.3.22

"sempre que penso na grécia"

 

para kiddo

 

a poesia começa com a barbárie

na comunidade do sonho juvenil

– com humildade revolucionária

e nenhum argumento filosófico.

 

incêndio na ala das crianças órfãs!

tudo remonta tempos imemoriais,

a não ser pela fala pobre do poeta

– quinto na fila rumo ao olimpo –

que mesmo pobre criou os deuses.

 

demonstrações infantis de maldade!

exuberância original do corpo rijo,

a poesia começa com ossos frágeis,

da história, ao calcanhar de aquiles.

 

não penso, por isso existo: heroico.

sou eu o milagre ao qual me agarro,

o mesmo milagre que construímos.

 

sem moral alguma, apenas avanço

com gargalhadas e dispêndio de fé

: criação do que jamais deformarei.

 

repetição dessa história eterna ideal

às margens do meu desejo raquítico.

 

idade dos deuses, do poema heroico,

idade dos homens, de volta à caverna.

deuses outra vez, fé no que não se vê,

providência divina: força de acúmulo

da humanidade em desespero de fim.

 

devoção, sexo, enterro: eterna trilogia

– canibal cartesiano após a dissecção.

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