joelhos são grandes
traidores,
foram feitos para
durarem,
pelo menos entre
humanos,
não mais de quarenta
anos.
minha mãe morreu bem
cedo,
de câncer no cólon do
intestino,
acho que era esse o
nome dele,
mas prometi a mim mesmo
que
jamais tiraria a prova
do nome.
quando fiz trinta e
seis anos,
idade em que se foi
minha mãe,
minha médica, que sabe
bem
como minha mãe morreu,
olhou para mim e me
disse:
você está na idade do
câncer.
não achei muito
delicado,
nem tampouco
auspicioso,
mas achei muito
engraçado
que exista idade para
tudo.
então examinei, como
indicado,
o cólon do meu intestino
grosso,
enquanto pensava num
intestino
que estivesse bastante
injuriado,
reclamando de tudo à sua
volta,
sendo grosseiro com as
pessoas;
na hora aquilo me
deixou calmo.
mas mesmo que eu
estivesse
na idade ideal para o
câncer,
o cólon do intestino
grosso –
ah, minha mãe, ai de
mim! –
era um pomar de
morangos.
foi o que disse a
doutora,
enquanto eu saía de
maca
achando tudo engraçado
porque estava sob
efeito
da anestesia e aquilo
era
o que sonhei a vida
toda
como o pico do prazer e
também uma boa notícia
e todas as vezes que
corri
atrás disso me
drogando,
não cheguei perto dessa
vontade de levar comigo
meu pomar de morangos
guardado no meu
coração.
mas sobre meus joelhos,
naquela época tão
antiga,
eu jamais havia
pensado.
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