13.2.22

"vida montanha no avesso da morte"


eu quero mãos calosas e corações macios,

descobrir o fracasso como a flor precoce.

na raiz do naufrágio vive o coração do rio,

as implosões são o pus da nossa boa sorte.

 

quero alguém que me ame tanto a ponto

de eu pensar que escrevo a mim mesmo.

a moral se apagou nos lençóis do aborto,

ancoram anos elefantes em desfiladeiro.

 

é preciso um trovão uma coisa que rosne

dentro de algo macio que traga conforto.

é preciso arrastar talvez um corpo morto,

somar suor e surra no silêncio da degola.

 

sopra de algum sonho a chance concreta

de agarrar sem arrebentar o fio de prata.

eu quero a vida que espreita pela fresta

da porta que range e nunca se escancara.

 

roubar de olhos abertos o que se proponha

a fazer faísca na fogueira que fria se apaga.

no investimento do que ri e não tem nome,

eu serei a gentileza de uma disputa de faca.


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