20.2.22

"as raízes do romantismo"

 

aqui os homens desesperados,

humilhados pelo iluminismo,

castrados em suas próprias camas,

ordenados por uma natureza hostil,

filhos bastardos de homens nobres,

filhos de açougueiros, padres e trastes,

piratas e ferreiros, idólatras e loucos,

sombras de uma piedade rancorosa,

aflitos de deus e da solene autonomia

do gesto, a quem nenhuma mulher

veio ensinar a paciência do gesto,

a gestação do gesto, a coragem da vida,

então eles se bateram em duelos,

fracos e tísicos e magros e rudes,

com perucas florescentes e olheiras,

com bandanas corsárias na cabeça,

todo o risco de não ser alguém bom

e ainda assim viver pala além

da sobrevivência e do martírio,

mas ah se houvesse ao menos

uma prima, uma irmã, uma mãe,

além dos mil discípulos de jogatina,

que pudesse enxugar as lágrimas

de toda uma geração de crianças

heroicas e assustadas e brutalizadas

por uma coragem forjada na guerra,

por uma ideia que se esvai na doença,

trêmulas carcaças em testes de honra,

isso nunca foi suficiente e malogra

todas as expectativas de um século

que cai no colo da nossa juventude

como o fogo ainda incandescente

de todos os erros e falhas e desvios

que se possa acolher no colo original

da mulher que homem nenhum sabe,

e que traga alguma paz ao suor doentio

na expectativa de alguém que diga:

não se preocupe, meu pequeno, viva

e não se preocupe com nada agora.

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