5.2.22

"quarenta anos quem diria"


tenho finalmente

quarenta anos

e me sinto cansado

como um garoto

de vinte, um velho

garoto de vinte anos.

 

que absurdo uma amiga disse

já pensou, velhinho, na ideia

de que você pode ainda nem

estar na metade da sua vida?

 

então eu disse, calma lá,

não ergui brasília nem nada,

não escrevi os antipoemas,

veja, este aqui é mais um

desses que depois vão ficar

por aí sempre à espera

de mais um tempo juntos,

poder contar os anos como

um condenado que conta

o tic-tac da bomba enquanto

está amarrado frente à bomba.

 

uma pena não poder mais dizer

morreu de droga aos vinte e sete,

morreu de jesuíta aos trinta e três,

morreu de louco aos trinta e nove.

 

pelo menos eu existo no mundo

em que a ledusha gosta de mim.

não sou o velho marlon brando,

não consegui ser um deus velho.

 

todos ficamos um pouco loucos

nesses últimos tempos de crime,

não há a quem pedir desculpas.

 

menos as crianças, pobrezinhas,

que hoje são gnomos adultos e,

como sabemos, assim perderam

o reino dos céus – mais um tapa

na cara das nossas ingenuidades,

papai-noel alcoolizado na sarjeta:

fadinha do dente no reality show.

 

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