tenho finalmente
quarenta anos
e me sinto cansado
como um garoto
de vinte, um velho
garoto de vinte anos.
que absurdo uma amiga
disse
já pensou, velhinho, na
ideia
de que você pode ainda
nem
estar na metade da sua vida?
então eu disse, calma
lá,
não ergui brasília nem nada,
não escrevi os antipoemas,
veja, este aqui é mais
um
desses que depois vão
ficar
por aí sempre à espera
de mais um tempo
juntos,
poder contar os anos
como
um condenado que conta
o tic-tac da bomba
enquanto
está amarrado frente à
bomba.
uma pena não poder mais
dizer
morreu de droga aos
vinte e sete,
morreu de jesuíta aos
trinta e três,
morreu de louco aos
trinta e nove.
pelo menos eu existo no
mundo
em que a ledusha gosta
de mim.
não sou o velho marlon brando,
não consegui ser um
deus velho.
todos ficamos um pouco loucos
nesses últimos tempos
de crime,
não há a quem pedir desculpas.
menos as crianças,
pobrezinhas,
que hoje são gnomos adultos
e,
como sabemos, assim
perderam
o reino dos céus – mais
um tapa
na cara das nossas ingenuidades,
papai-noel alcoolizado na
sarjeta:
fadinha do dente no
reality show.
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