22.2.22

"adeus, copacabana"

 

vou-me embora de copa,

onde nunca fui filho de rei,

dormi em cama emprestada,

tentei passar de cabeça erguida

diante dos filhos de militares

que tocam fogo nos mendigos.

 

sempre estive exilado em copa,

sendo ali um pouco mendigo,

sendo um pouco filho de militar,

sendo um pouco fogueira feia,

mas amei copa platonicamente,

como uma senhora cara demais           

e também como aquela bisavó

que fuma escondida no lavabo,

detesta humanos e aos pombos

dá de comer: vou-me embora.

 

nunca tive um amor em copa,

trouxe o meu de santa teresa

e sempre tive a fria impressão

de que eu era pouco pra copa,

e copa era pouco pra ipanema,

e ipanema era nada pro leblon.

posto que eu era nada no nada

e essa vida era uma telenovela.

 

finda novela, digo adeus a copa,

onde não encontrei uma esfirra

boa como no largo do machado,

ou uma tapioca que fosse páreo

pra tapioca da feira da glória.

 

era preciso ter sido um velhaco

pra estar em copa com espírito,

mas sou um homem nem velho

nem novo e vou embora pleno

de que nada aqui foi para mim,

eu que, por não ter muita grana,

talvez diga adeus, copacabana,

com água da casa no botequim.

 

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