a poesia é uma vergonha elaborada,
eu disse há sete anos,
sem vergonha.
sem saber com que roupa
estou falando,
as gafieiras choravam
nos becos e vielas
quando eu tinha a voz bem
mais rouca,
fungava pelo nariz e
deixava brotar
bolsas de pus na pele
do meu pânico
e falava pelos
cotovelos em sangue,
assassinato, destino,
crueldade doce,
e dizia que sou um
homem simples,
vejam vocês, e talvez
alguém diga,
alguém que eu ame então
para sempre,
mas você é mesmo um
sujeito simples,
só que não sei com que
pedaço de pano
estou falando e se
estou falando mesmo
ou apenas sendo um
apresentador
daqueles de auditório,
que um dia
também foi conhecido
como âncora
e que é aquela pessoa
que nos enfia
enterrados no chão dos
acontecimentos,
mas então eu tinha trinta
anos e era puro
de uma sujeira nua que
parece um manto
e dizia eu escrevo
triste ou muito feliz,
o que significa agora não
mais outra vez
escrever já que me
acostumei com fotos
e propagandas em
movimento harmônico
que levo nos bolsos com
rezas heregeses
em que peço pela maior
fé dos mundos,
enquanto poetas trocam
de roupa ao vivo
e nunca imaginei que fossem
tão bonitos.
Nenhum comentário:
Postar um comentário