23.4.21

"pequena ração"


sobre ossos e ódio

continuar a nascer.

 

a cabeça do vacilo

já não precisa mais

de frases violetas

para ficar sem ar.

 

fé que se enforca

na corda do final,

saudade que dilui

a memória inútil

da desaprovação.

 

entre sinos e sobras

repartir as doenças.

 

dilúvios ou pombos

estão desaparecidos

e os poemas secam

no varal desalmado

de uma crua solidão.

 

em desespero ouço

as vozes de amigos

que escorrem surras

pelos narizes da paz

de uma tumultuada

possessão de ruínas.

 

mais uma vez faz frio,

pondera-se o fascismo

com bolhas de perdão

por nossos equívocos

diante do bom negócio

no coração silencioso

do nosso maior medo.

 

desabar no mistério

em que se acumula

sua impermanência,

sonho voraz – hino

de corrente folgada

aos pés do suicídio.

 

o carnaval do corpo

obriga ao sacrifício

dessa lúcida paixão

abotoada no castigo

pelo bem do esforço

de quem traz a cruz

e guarda o mistério.

 

 

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