28.4.21

"entre atores e mendigos"


já estava com saudades

desses dias tristíssimos

em que os amigo caem

feito cabelos no câncer

e as juntas avisam: vem

chuva por aí; nas casas

as pessoas se encolhem

e nas calçadas ainda há

imaginária abundância

nas palavras de carinho

violentas como o amor

porque no fim do mundo

apenas os mendigos têm

direito civil à derradeira

festa do fim dos tempos.

esse banquete de restos,

a felicidade sem dentes,

enfim uma sintonia fina

com a despreocupação.

 

enquanto isso, em casa,

os donos do bom reino

dos céus, eles se agitam

para se tornar as cinzas

da nossa última fogueira

ou talvez fundar marte.

 

eu não procuro o reino

e não fundarei planetas

mas posso acompanhar

a inédita marcha fúnebre

pois ainda não me tornei

um mendigo para poder

dançar a derradeira valsa

e finalmente ser o nada

que se reunirá outra vez

no fim da apresentação

de um espetáculo triste.

 

fui um mau ator, penso,

daria um bom mendigo.

 

Nenhum comentário: