para charly garcia e luis alberto spinetta
ouvir roque argentino
psicodélico
e também aquele folk de
chimarrão
e sentar por uma hora
ou meia hora
esperando um raio,
ajuda, sossego,
e comer algo rápido sem
esperança
e depois arrotar como
um burguês
o salame que, algumas
vezes, tirou
sem pagar do
supermercado onde
talvez se esteja espancado
à morte
no estacionamento por
trogloditas,
ainda assim passar vivo
– até aqui
imaginar que se é um
alienígena
e se sentir ao mesmo
tempo feliz
e muito triste por
saber que não há
muitas pessoas, agora,
escutando
roque hermano, folk de
chimarrão,
e também sozinho por
ser de outra
espécie de animal cujo
paradeiro e
origem não podem ser
conhecidos,
então uma força
estranha acomete
até aqui para apenas se
deixar estar
em bulbo de flor,
lagarta no casulo,
um corpo na cruz,
qualquer cláusula,
mas sem cláusula saber salame
ham-
burguês, seus
intestinos burgueses,
mesmo sem muito
dinheiro e terror,
ainda assim uma chance
em milhão,
pequena vocação, um
tanto heroica,
no rolar da pedra que
vem das águas
do rio da prata,
arredor de um sonho
esquisito como todos
aqueles bichos
magros muito altos, bichos curvados,
que tratam com papoulas
e pimentas
a cinzenta amnésia
latino-americana.
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