8.1.21

“rolar da pedra que vem das águas”


para charly garcia e luis alberto spinetta


ouvir roque argentino psicodélico

e também aquele folk de chimarrão

e sentar por uma hora ou meia hora

esperando um raio, ajuda, sossego,

e comer algo rápido sem esperança

e depois arrotar como um burguês

o salame que, algumas vezes, tirou

sem pagar do supermercado onde

talvez se esteja espancado à morte

no estacionamento por trogloditas,

ainda assim passar vivo – até aqui

imaginar que se é um alienígena

e se sentir ao mesmo tempo feliz

e muito triste por saber que não há

muitas pessoas, agora, escutando

roque hermano, folk de chimarrão,

e também sozinho por ser de outra

espécie de animal cujo paradeiro e

origem não podem ser conhecidos,

então uma força estranha acomete

até aqui para apenas se deixar estar

em bulbo de flor, lagarta no casulo,

um corpo na cruz, qualquer cláusula,

mas sem cláusula saber salame ham-

burguês, seus intestinos burgueses,

mesmo sem muito dinheiro e terror,

ainda assim uma chance em milhão,

pequena vocação, um tanto heroica,

no rolar da pedra que vem das águas

do rio da prata, arredor de um sonho

esquisito como todos aqueles bichos

magros muito altos, bichos curvados,

que tratam com papoulas e pimentas

a cinzenta amnésia latino-americana.

 

 

 

Nenhum comentário: