estou cansado e forte e
penso no meu xará
com alma confuciana e
canelas esdrúxulas,
um samurai, inclusive, com
olhos puxados
e um milhão de anos na
carcaça de um pã
que nunca, em tempo
algum, pude encontrar,
enquanto anos a fio sonhei
com a ideia
de ter qualquer espécie
de sábio guru
sem breguice e que
pudesse me dizer:
leonardo faça isso, leonardo
vá por aqui,
e que sobe em árvores
crespas e explica
cada órgão de cada
filho verde de deus
como, enfim, o sonho de
uma criança
também de olhos puxados
e aquariano,
também uma tentativa, com
mais medo,
de entender maneira de
frear o que é ruim
e amar os mais novos conforme
a tartaruga
pode amar suas centenas
de ovos, um a um,
e enfrentar a maior
travessia da sua vida
rumo a destino incerto,
sinuoso desfecho,
um animal antigo que
ama o suficiente
para fazer o que não é
possível e por isso
completa a jornada como
um pai, um filho,
como um ciclo vivo de
carne e muito osso,
mandala refletida em dentes
e compaixão,
um que sabe que nos
sonhos não se dorme,
que o mal acontece e
todos podemos ver,
mas dentro do órgão de
cada fruta ele vem,
inquieto, uma criança
de um milhão de anos,
com quem se aprender
que quase sempre
a estrondosa derrota é
verde como o perdão.
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