na
ponta dos pés sinto essa dor abstrata.
sem
coragem, de olhos fechados, peço
que
se equilibrem os meus ossos ruins.
a
bacia de chumbo das manhãs lembra
o
estilete passado pela garganta da noite.
quero
todo o amor do mundo mas trago
loucos
pendurados nas minhas gengivas.
meu
roer noturno de dentes não impede
que
se faça a guerra de vultos da prole.
é
uma raiva que se digere com remédios
na
covardia de outro lento dia horizontal.
tenho
ganas de dizer mas sei que matam
as
palavras ditas – e que estupram a luz
no
corpo da infância com suas bicicletas
que,
nos sonhos, andam sempre para trás.
acumulo
de inchaço o milagre das fezes
que
trabalham com preguiça descomunal,
que
se batem na fila dos desejos escuros.
todo
dia somos fezes em sacos nas filas
dos
bancos e nas filas do minuto sereno.
todo
dia somos as noites em respiradores
como
um filme barato esquecido passado
às
tardes numa caixa de sci-fi enferrujada.
pequenos
diabos mastigam-me os ombros
e
já não espero, de manhã, estar desperto.
produzo
nos olhos a gosma de escombros
escarro
para dentro este oásis no deserto.
minhas
vontades são bandidos descalços
que
traficam flores de plástico a gente má.
não
se espera mais a salvação do planeta,
então
penduro minhas galochas de guerra
junto
a sacos de compras limpos e vazios.
e
percebo que mesmo o fim deste mundo
é
bonito quando bate um vento sobre ele.
meus
dentes noturnos trazem à tona vagas
no
beliche periférico de toda insatisfação.
não
sei o que fazer com o corpo esticado,
com
a medula amassada de tanto esforço
de
ser quem possa traçar os planos secos
de
um sol que vem algemado por nuvens,
esquecido
da própria antiga exuberância
com
que outrora justificou esse chumbo
perfurando
os olhos como tiros na casa,
quando
durmo e sonho com o banquete
com
bolsas de sangue deitadas às costas
e
o amor dos amigos costurado no beiço.
Nenhum comentário:
Postar um comentário