só acredito no deus dos
bêbados,
no deus dos loucos e no
deus dos animais.
agora haverá comércio
para todos
os nossos panfletos
catastróficos.
me arrasto no primeiro
andar dessa casa
e já sei que existem os
subsolos e o céu
e que ambos estão
enganados sobre nós.
todo avanço lustrado
com desespero,
nosso falatório sobre o
que faríamos
quando fosse a hora e
quando ela seria,
era o que sintonizavam nossas
orelhas
de pé sem saber que
teríamos a honra
de ver o início de um
gigantesco fim.
os mendigos pelas ruas
se perguntam:
por que estão todos tão
desesperados?
os loucos nos asilos
recolhem as pedras
pro que chamam de Grande
Construção.
os interditados rirão
em silêncio da dor
finalmente compartilhada
com aqueles
que nunca entenderam e
tiveram medo,
mas seguiam no que
pensavam: não eu.
só acredito no deus dos
bêbados,
no deus dos loucos e
nos deus dos animais.
porque ele é gentil e
confuso e tímido,
se apresenta e diz:
olha não há muito
o que oferecer agora
mas estarei contigo.
tudo começa com uma
limpeza doentia,
o egoísmo arranca os
pelos da nossa paz.
alguns jogam dominó com
uma peixeira
escondida em bom lugar e
contra o quê?
nunca houve o que não
pudessem apontar.
entre algas, alguns
mergulharão em si,
estes, sim, à beira da
loucura que liberta.
mas a liberdade não
será a última etapa
da nossa precária
iluminação não aceita.
é hora de beijar a
testa dos demônios
que fizeram nos
aproximar enquanto
havia tempo e era algo
ainda sugerido.
toda hesitação tornou-se
o próprio rumo,
o que não pudemos, na
pior hora, evitar,
agora é a regra de uma outra alucinação.
só acredito no deus dos
bêbados,
no deus dos loucos e no
deus dos animais.
os bichos silvestres
voltaram às cidades,
os canais de veneza agora
têm golfinhos,
é nossa vez e não
podemos dar as mãos.
mas este deus no qual
acredito
está acostumado com as
causas perdidas,
está enterrado também
com as vítimas.
tiraram-lhe os braços e
tornou-se a vênus,
sacerdotisa única da
nossa triste condição.
a desaceleração força visão
mais longa,
ansiamos para que não
se torne vesga
no meio dessa bolha
divisória que agora
precisamos atravessar
como nos melhores
romances distópicos que
lemos seguros
e rezando por mais
tempo em que fosse
possível ficar completamente
sozinhos.
que muitos não verão o
outro lado da bolha,
isso todos já sabemos
desde o princípio
dessa jornada bufa que levamos
arregalados.
há que se procurar ainda
alguma beleza
na voz entrecortada do que
pena ao se calar.
em breve sentiremos
saudades, torço aqui
para que não nos
tornemos autocentrados
porque este é um
exercício com o outro.
já sinto saudades,
aliás, dessa coisa única
que nos trouxe até
aqui, ainda que muito mal.
é uma coisa que chamo
de coisa porque não
fica bonito agora dar
nome muito excêntrico
antes que comecemos a
perder esse fôlego
de reta final que me
estremece por inteiro.
apesar de tudo tem sido
uma honra imensa
enfrentar toda essa
loucura junto com vocês.
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