pro capilé
você não é de forma
alguma um trovão,
uma piscina de
ladrilhos vazia à meia-noite.
eu abdiquei de quase
tudo nesse mundo,
mas não sou capaz de ver-me
livre de você.
e nem fazê-lo certo
porque, quando surge,
você fica logo distante
da minha emoção.
é mesmo uma pena e eu
minto aos amigos
que vai tudo bem entre
nós, mas você vê
nos meus olhos com
pupilas eletrocutadas
que posso mentir sobre
você a vida toda.
você não fala nada mas,
inchadinho assim,
você fica também muito
charmoso como
se fosse o marlon brando
gordo daquele
lindo poema da ledusha,
era mesmo ela?
não há resposta nesse
novo amanhecer,
nem é lindo o labirinto
a que me entrego.
desaprender a cada dia
o que foi tomado
e correr vendado sobre
um novo crucifixo.
veja bem: estamos quase
mortos e você
é muito pouco, quase
nada, e é todo meu.
que bom morrer tendo
tudo que preciso,
mas você não é uma
motosserra, protesto
por uma humanidade mais
benevolente.
você nunca pirou como
este que se entrega
vendado e errante e sem
a menor chance.
não é um varal com
roupa branca ao vento,
não é uma garganta
degolada, dá até para
dizer que você nem
mesmo esteve por aqui.
outra vez você
escapuliu pela mata adentro,
você joga um jogo
pesado e tem pés leves.
nunca pretendi te
acompanhar, me arrasto.
e do seu rastro invento
um mundo péssimo.
mas não quero acabar
tão triste sua história,
então te enfeito com um
milhão de corujas.
Nenhum comentário:
Postar um comentário