30.7.19

"já não sei ajudar"



hoje estou triste
especialmente
porque continuo,
mesmo depois
da meditação,
mesmo depois
de castrar o grito,
mesmo depois
de tapar a garrafa,
mesmo depois
de ter dois gatos,
mesmo depois
de enlouquecer,
eu continuo, sim,
sem poder dizer
algo de elevado
quando alguém
que eu amo sofre.

é uma canalhice
afundar no colo
de quem acabou
de pedir socorro.
já não sei ajudar,
sorrio como o que
necessita de ajuda
mui ardentemente,
mas não pode dar
um pentelho de si
a quem se afoga.

permaneço em fé,
já não sei ajudar.
os olhos do amor
são tão amarelos,
parecem os olhos
de um assassino.
a solidão é vazia,
seria fácil dizer.
não é a catástrofe
que prometeram.
precisamos estar
bem preparados
para quando cair
mais um amigo.
bem mais perto
do poema que
dos nossos pais.
umbigos abertos
cobertos de neve.


Um comentário:

eumatheus disse...

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