porque talvez eu morra
feliz de morrer por
aventura
finalmente equiparado
com minha verdadeira
loucura
talvez eu morra de
olhos abertos
na velocidade
vergonhosa com que
se faz amor pela
primeira vez.
porque talvez agora
seja a melhor vez de morrer
e porque sinto
ilusoriamente que estou preparado
que meu amor tem
tamanho semelhante ao da morte
e que agora meus amigos
poderão se lembrar de mim
como a um herói possível
na estante de reposição.
pena não vieram os
louros que de malucos fazem ídolos
– deste cacho não virá
tua banana explosiva de chiliques
aprendi a dormir, a
sonhar, mas não me lembro do sonho
é tarde lá fora, os
poetas voltaram a se tratar com cordas
e as bocas estão sem
dentes na chance firme da tua nuca.
porque talvez eu morra
em paz de verter minha
loucura
num propósito senão
eficaz
ao menos de infantil delírio.
tornar a sujar a casa
com palavras
guardar com zelo
granadas no bolso
desfrutar o sangue da
casa bruta.
erguerei meu corpo
mentiroso
na altura que para a
noiva negra
seja possível me marcar
um xis.
conhecerei hoje a
máquina
que faz de mim um
farelo
e finalmente um elo de
algo.
uma pena não ter a alma
tão leve
a ponto de poder voltar
um dia
e contar para vocês a
maravilha
dessa passagem se
comparada
a qualquer coisa vista
por aqui.
queria dizer que foi
bom
queria dizer vejo vocês
mais tarde
mas no lugar para onde
me dirijo
não se fala nem se
escuta, não é
preciso fazer esforço
para nada.
lá se descansa – sente-se
saudade
de sofrer e dos amigos e
inimigos
que ainda não deram o
ar da graça.
porque talvez eu morra
agora
porque talvez eu deva
nascer.
Um comentário:
seus versos lembram-me o monólogo de Hamlet (Ato 2, Cena 2) em que ele usa bastante "may be" e "perhaps", levado pelo arrebatamento do fantasma de Hamlet pai que revela a traição de seu tio, causando não apenas a poderosa Hibris no jovem Hamlet mas também toda uma instabilidade política na Dinamarca. Mas o jovem Hamlet não está completamente convicto. "May be" e "perhaps" são os instrumentos de Shakespeare para suspeitar até de si mesmo, de seu próprio roteiro. Em tempos estranhos como o nosso, onde a ficção parece imiscuir-se perigosamente na realidade, ou até pior através da fixação de verdades absolutas, o ato de duvidar tornou-se uma necessidade, um imperativo categórico para "Capiturar" a consciência do rei.
um abraço
About, my brain! I have heard
That guilty creatures sitting at a play,
Have by the very cunning of the scene,
Been struck so to the soul that presently
They have proclaim’d their malefactions.
For murder, though it have no tongue, will speak
With most miraculous organ. I’ll have these players
Play something like the murder of my father
Before mine uncle. I’ll observe his looks;
I’ll tent him to the quick. If he but blench,
I know my course. The spirit that I have seen
May be the devil, and the devil hath power
T’assume a pleasing shape, yea, and perhaps
Out of my weakness and my melancholy,
As he is very potent with such spirits,
Abuses me to damn me. I’ll have grounds
More relative than this. The play’s the thing
Wherein I’ll catch the conscience of the King.
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