e ainda assim não seria
melhor se não soubéssemos.
certas vitórias se
comemoram melhor em silêncio.
isso sou eu falando para
mim mesmo me despedindo
com os olhos ruins de
outros companheiros inéditos
pensando que bom poder reconhecê-los,
que alegria
poder estar vestido como
eles, triste como todos eles.
nós nunca ganhamos em
silêncio, mas, hoje, em silêncio,
ganhamos uns aos outros, nos
olhamos pela primeira vez.
por exemplo: a livraria
está vazia, toca jazz de elevador.
entra então, cabisbaixo,
de camisa vermelha, wagner tiso.
sobe as escadas, parece
ofegante, até o café, atira-se ali.
e, dentro da desgraça,
pela primeira vez dentro do gesto,
eu sou igual a wagner
tiso, isso me dá felicidade triste –
sou mestre nos enlaces da
felicidade triste, como a chamo.
corro até o som central
da livraria, adeus jazz de elevador!
nunca mais ouvirei uma
música que não tenha o sangue
de todos os corações
tristes do mundo e mudo a música,
ponho milton nascimento,
que canta eu sou da américa
do sul, eu sei vocês não
vão saber, e eu acho engraçado,
nunca soubemos tanto como
é ser daqui – wagner pede
uma taça de vinho, a
música não parece ter feito grande
efeito, ele bate
timidamente o pé, no ritmo certo, como
quem parece dizer
claramente: o wagner tiso agradece.
então vejo os mesmos
olhos de todos os meus amigos
e também de todos os que
não são ainda meus amigos,
mas, pensem bem, camaradas,
essa pode ser a chance
de sermos finalmente camaradas
mais que fantasmas
de causas particulares
nos armários da nossa frustração.
depois pus milagre dos
peixes e depois clube da esquina.
depois escrevi para um
amigo mineiro: acho que estou
vendo wagner tiso chorando
enquanto o mundo acaba.
então isso quer dizer que
o mundo ainda não acabou,
diz o meu amigo ou sou
apenas eu mais outra vez
falando coisas para mim
mesmo, o mais provável
é que ele nem mesmo
estivesse chorando de raiva,
mas talvez de nós quase termos
conseguido – ouça –
mas tudo escorreu na
vaidade do umbigo afetuoso.
então wagner tiso finalmente
se levanta para ir embora,
corro para a porta como
se eu mesmo estivesse partindo.
ele passa por mim
cabisbaixo como entrou, eu penso:
levante a cabeça,
maestro, o mundo ainda não acabou.
mas não falo e isso sou eu
– será daqui em diante assim?
dizendo a mim mesmo o diálogo
que poderia nos salvar.
Nenhum comentário:
Postar um comentário