6.10.18

“à espera de um milagre”


você precisa agora se disfarçar de alguma coisa,
não porque você seja falso, talvez um pouco pernóstico,
mas porque você não sabe o que deveria fazer,
essa coisa em movimento amedrontado que é você não sabe
e mais uma vez o mundo está acabando e todo mundo
se recolhe e explode por dentro: é o fim eles dizem
e você precisa de alguma forma se disfarçar,
porque você não sabe quem é e isso é muito grave,
pessoas muito próximas que entram e saem parecem
saber exatamente ou pelo menos mais que você
sobre o que é ser alguém sem nenhum disfarce.

mas aqui está você mais uma vez à sombra do vulcão,
você não engana como groucho marx ou fassbinder,
talvez as pessoas outras tampouco saibam bem
o que é que acontece quando se perde a imagem
capaz de ultrapassar o mundo para dentro de cada um,
que é cada um na solidão invencível das multidões.

mosquitos saudáveis gostam muito do teu sangue,
disfarça tua medusa no incêndio do teu passado,
escreve o texto e dorme porque na rara manhã
você carrega livros impossíveis dentro da cabeça
e se disfarça daquilo que só existe para não te salvar.

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